VASOS


O vaso não é um assunto secundário, não é só um contentor para o substrato onde se acomodam as raízes, o vaso e a árvore são o projeto, o Bonsai!
Sim, o Bonsai clássico é composto pela árvore mas também pelo vaso, não pode existir um sem o outro. Um mestre japonês dizia: - Se o Bonsai é o modelo, o vaso é a roupa. A árvore e o vaso representam uma unidade equilibrada, harmoniosa e natural na forma, cor e tamanho.
Os vasos na China e no Japão, ao contrário do que se passa no ocidente, são uma tradição artística importante, tanto que as peças são obras de arte assinadas pelos respeitados mestres oleiros que criam seus próprios modelos, um a um, num processo manual e artístico.
Na atualidade a maioria dos fabricantes de vasos de qualidade, no mundo do Bonsai, estão no Japão, sendo os mais famosos os da região de Tokoname, este é também o nome dado aos vasos oriundos dessa província. De uma forma mais ampla, os vasos para bonsai que predominam, em quantidade, qualidade e variedade são de origem oriental. Os preços destas peças de cerâmica são elevados, no entanto ultimamente apareceram no mercado vasos de grande qualidade fabricados no Ocidente e até em plástico, mas estes são sobretudo vasos de treino! Se se sentir com o dom da bricolage porque não fabricar os seus próprios vasos? Quem sabe isto não se transforme num rendimento extra... ou numa poupança significativa! Veja aqui como fazer-los.

ORIGENS
As origens são chinesas. No Século X, e até mesmo antes, os chineses começaram o fabrico de vasos em cerâmica, denominados Pen ou Pun (dando mais tarde origem à palavra Pun-tsai ).
Inicialmente as bandejas não foram criadas com a intenção de conter plantas, mas para serem queimadores de incenso com tampas amovíveis perfuradas que imitavam montanhas de onde sairia o fumo. Ao retirar a tampa obtém-se uma bandeja, que deu assim origem ao vaso bonsai para as paisagens em miniatura em voga na época, as conhecidas Pun-Ching, hoje denominadas Penjing.
Essas bandejas são hoje uma raridade procurada por colecionadores. Uma das olarias mais famosas situa-se na cidade chinesa de Yixing onde se encontrava uma argila chamada SHI-SHA-TO ou areia purpura.
No período Kamakura, 1185 a 1333, período em que o Japão adotou as tradições culturais do seu vizinho gigante, a China, a arte de cultivar árvores em bandejas foi introduzida no Japão.
Foi a partir dessa altura que muitas técnicas, estilos, bandejas e ferramentas conhecidas hoje, foram desenvolvidos no Japão a partir de originais chineses.
Entre o período Kamakura e o período Muromachi 1400/1600, existiam seis centros oleiros que ficavam situados em Tokoname, Shigaraki, Tamba, Bizen, Echizen e Seto. Durante o período Edo, 1603/1867, o Shogunato Tokugawa restringiu o comercio destes 6 antigos centros oleiros, o que deu origem ao aparecimento de novas olarias por todo o país.
No início do século XX os japoneses importaram de Yixing o processo chinês e hoje fazem-se algumas cópias denominadas Shinshin-to (novo vaso chinês).

DIFERENÇA ENTRE VASOS CHINESES E JAPONESES
Na atualidade não existem grandes diferenças nos modernos vasos porque ambos são feitos sob ordens específicas dos mestres bonsai, tanto na China como no Japão, enquanto nos antigos vasos chineses havia sim, algumas diferenças claras, tais como:
 1). Os vasos chineses eram mais leves devido ao material mais poroso.
 2). O exterior era rugoso.
 3). Ao golpea-los, tinham um som grave.
 4). Frequentemente eram decorados com pinturas e/ou relevos.
 5). Os vasos chineses são gravados no fundo com um sinete que indica o nome da olaria, cidade ou dinastia em que foram ou ainda são produzidos. No caso japonês o sinete é a assinatura do ceramista/artista criador e o atelier.   - Os vasos de qualidade tanto os chineses quanto os japoneses ainda hoje são marcados com os selos correspondentes, mas até no Ocidente, hoje em dia, os ceramistas optaram pelo mesmo sistema de marcação.


✔  DIMENSÕES E FORMAS
Os vasos são fabricados em inúmeras formas e dimensões. Desde vasos para os mini bonsai (shito ou mame) até aquelas para os bonsai de grande porte. Em profundidade ocorre também grandes diferenças, principalmente quando se compara bandejas para grupo ou floresta ou os vasos para o estilo cascata.
Como em tudo, ao redor dos vasos bonsai existe toda uma industria que não é só produção em massa mas autentica arte, onde os ceramistas assinam as peças de sua criação e estas são conhecidas de acordo com o fabricante, tanto na forma dos pés (Ashi), dos rebordos, materiais, cor etc.

✔  COR
Os vasos podem ter a cor natural da cerâmica ou o colorido decorrente de pintura ou do esmalte aplicado, este deve obrigatoriamente existir só no exterior do vaso. As cores naturais variam com o tipo/origem das matérias-primas, tendo efeito sobre o resultado o padrão de queima empregado. Usualmente, as cores seguem o cinza e o ocre e suas variações de muito claro à muito escuro. As esmaltadas são incontáveis, embora haja uma preferência pelas cores azul, verde, bege e suas variações. Os vasos chineses costumam ter motivos em relevo de figuras humanas bem coloridas.
Regra geral, as coníferas tendem a ser plantadas em vasos cor de terra sem vidrado. Nas árvores de folha caduca, porque no Outono as folhas mudam de cor, teremos de encontrar o vaso da cor que se harmonize com as diferentes tonalidades que a folha adquire ao longo do ano enquanto que nas árvores de flor deveremos escolher o vaso com a cor que a árvore adquire quando floresce.

✔  ESCOLHA DO VASO
Na fase inicial da criação do Bonsai, o vaso é um elemento distante, até há quem diga que só se deve oferecer o vaso ao Bonsai depois deste superar a sua fase de adolescente, pré-bonsai. Na medida que o trabalho com o pré-bonsai avança, é que a decisão pelo vaso definitivo se faz importante. A sua escolha tem que levar em conta o estilo do Bonsai, a forma e o volume da copa, a massa e a profundidade das raízes, a cor das flores e/ou dos frutos. Muito importante também é que o vaso tenha grandes furos de drenagem e pés para que as raízes possam respirar.



✔  UM VASO QUE REALCE A ÁRVORE
É muito importante. A ilustração abaixo mostra um pinheiro branco plantado em diferentes vasos. O primeiro exemplo é o mais indicado para este pinheiro, pois o vaso retrata o aspeto da árvore, grossa e atarracada. O segundo exemplo, uma bandeja, é um vaso indicado para uma árvore mais formal, fina e alta de folha caduca, como é o caso de Acer, enquanto o terceiro exemplo é um vaso típico para o estilo cascata ou meia-cascata. - Veja aqui uma lista de vasos para os seus Bonsai.



✔  POSIÇÃO DA ÁRVORE NO VASO. A ligação entre a árvore e o vaso não é só pela cor, forma ou estilo, outro fator é a estética geral e a posição da árvore no vaso em relação ao todo ou até o tamanho do próprio vaso.
 - Onde plantar a árvore no vaso, ao centro, à direita, à esquerda?
 - Pois bem, na arte em geral existe uma regra chamada Secção de Ouro, Divisão Áurea ou Regra de Ouro.
 - E isto o que é, e em que consiste?


Bonsai não é só jardinagem, Bonsai é sobretudo arte e como arte que é, obedece a regras de composição, estética e beleza. Dito isto devemos recorrer a regras para que tudo se enquadre e se torne harmonioso, como num quadro. Isso leva-nos a fazer contas matemáticas que passam pela divisão do espaço disponível para a colocação da árvore no vaso, ou seja, o "Centro de Interesse" da obra, a própria árvore. Para tal recorremos à Divisão Áurea que consiste em multiplicar os centímetros do comprimento do vaso por 0,618.
Daqui resulta um valor que nos mostra que a diferença entre a parte menor e a maior, é proporcional à maior em relação ao todo, quero dizer que, Y está para X, como X está para Z.
Por outras palavras e olhando para a imagem vemos que a árvore está plantada no chamado Ponto de Ouro, no ponto que separa a secção X da Y, ou seja, se o vaso tivesse 22cm, o tronco ficaria à distância de 8,5cm de uma das paredes do vaso e a 13,5cm da parede contrária. O tronco fica assim plantado na posição mais atrativa que possa existir no projeto, nem central nem muito lateral.
Num vaso redondo com uma planta alta e vertical não se aplica esta regra.

✔  TAMANHO DO VASO. - O tamanho do vaso obedece a regras, embora não raramente estas regras sejam trascuradas por desconhecimento ou falta de estética da Arte Bonsai.


O vaso deve ter um comprimento, em relação à árvore, de cerca ’Uma altura’ como máximo, Figura A, a ‘Uma altura e meia’, como mínimo, Figura B,
No entanto é comum ver vasos demasiados pequenos para uma árvore, Figura C, o que é mau e pouco estético (Aqui uma árvore duas vezes maior que o comprimento do vaso), já o contrário pode ser aceite pois podemos querer dar a sensação de paisagem, campo aberto e aí sim, uma bandeja baixa e mais comprida, por vezes até desproporcional.
Num vaso redondo com uma planta alta e vertical, e estilo Literati, não se aplica esta regra. As ramas e pernadas podem exceder a largura do vaso.

✔  ALTERNATIVAS AOS VASOS
Muitas vezes não se utilizam vasos nas plantações de Bonsai mas lajes de pedra, o efeito é muito bonito porque dá a sensação de terreno aberto, liberta a árvore das "quatro paredes" a que o vaso a confina. As lajes de xisto são uma boa alternativa. Para plantar uma árvore com este processo é necessário cobrir todo o terreno com musgo para que este retenha a terra. As plantações na laje servem a todos os estilos exceto o de cascata mas são muito indicados para florestas pois "transportam-nos" a uma planície sem fim, transmitem calma e serenidade.
O trabalho abaixo foi realizado em 2010 por Eugenia e Shimpaku. Conjunto com 70cm de altura e 100 cm de comprimento sobre laje de pedra São Tomé. Repare que existem plantas de éspécies diferentes, o que transmite mais realismo à cena. Devemos ter em conta, ao misturar espécies numa paisagem, que devemos evitar juntar coníferas com folhosas.